Contexto

 

A exclusão social da mulher já vem há tempos... e é também uma realidade do século XIX. É de conhecimento de todos que há apenas alguns anos as mulheres eram consideradas APENAS mulheres, e de que esse pensamento ainda não se extinguiu.

 

No século XIX ,ao redor do mundo, a visão sobre a mulher já não era imposta só pela cultura, mas também por meio de artigos, propagandas e tudo mais.

Deveriam apenas fazer o máximo para serem boas donas de casa e mães. As que trabalhassem ou estudassem não eram consideradas boas, o quanto mais tonta fosse melhor e mais desejada seria.

Mas a realidade não era essa!

A colheita, 1880

Bastien Lepage

Lição de leitura, 1865

Mulher que lê, c. 1890

Jacques-Émile Blanche

 

A seguir, algumas reportagens e depoimentos confirmam o passado nada distante:

"Era um período estranho, insatisfatório, cheio de aspirações ingratas. Eu a muito sonhava em ser útil para o mundo, mas como éramos garotas com pouco dinheiro e nascidas em uma posição social específica, não se pensava como necessário que fizemos alguma coisa diferente de nos entretermos até que o momento e a oportunidade de casamento surgisse. melhor qualquer casamento do que nenhum, uma velha e tola tia costumava dizer.

A mulher das classes superiores tinham que entender cedo que a única porta aberta para uma vida que fosse, ao mesmo tempo, fácil e respeitável era aquela do casamento. Logo, ela dependia de sua boa aparência, nos conformes do gosto masculino daqueles dias, de seu charme e das artes de sua penteadeira".
(Charlotte Despard, memórias não publicadas, registro de 1850)

"Nós eramos ensinadas a ser jovens senhoras católicas na mesma linha da educação dada a nossas avós. Não havia lições orais, não existiam demonstrações, análises ou resolução de problemas. Nós nos sentávamos e ficávamos silenciosas em nossas fileiras de carteiras, aprendíamos dos livros e nossas tarefas eram corrigidas por uma freira, que era a professora naquele momento, a partir das respostas na parte final de um livro similar ao nosso... Nós tínhamos longos períodos de instrução religiosa... Sexta feira a tarde era devotada exclusivamente a comportamento. Os Modos fazem uma dama nos era dito, não o dinheiro ou o ensino, não a beleza. Então praticávamos como abrir uma porta, entrar e sair de um cômodo; a trazer uma carta, uma mensagem, uma bandeja ou um presente; a pedir permissão às mães de nossas amigas para que elas pudessem participar de uma festa; a receber visitas na ausência de nossos pais, e assim por diante!"
(Teresa Billington, em autobiografia não publicada, 1884)

 

"Um argumento comum contra a prática da medicina pelas mulheres é que não há demanda para isso; Que as mulheres, como regra, têm pouca confiança em pessoas de seu próprio sexo e que preferem ser atendidas por homens... Isso é provavelmente um fato, até recentemente não tem existido demanda por médicas, pois não ocorre para a maioria das pessoas querer algo que não existe; mas que muitas mulheres desejam ser atendidas por pessoas de seu próprio sexo, eu tenho certeza, e sei de mais de um caso em que senhoras passaram por dificuldades, sem atendimento apropriado, por acharem repugnante a idéia de serem atendidas por homens.
Eu tenho, repetidas vezes, encontrado até mesmo médicos, não favoráveis ao presente movimento, concordar que consideram que os homens ficam deslocados ao tratar de mulheres; e um eminente médico americano uma vez me disse que ele nunca entrava no quarto de uma senhora para atendê-la em particular sem se desculpar pela "invasão" (de privacidade).
Na Inglaterra, no momento presente, há somente uma mulher legalmente qualificada para exercer a medicina, e eu entendo que o tempo dela é muito mais que totalmente ocupado, e seus ganhos muito maiores, do que é o caso de muitos médicos que começaram a atuar a pouco tempo".
(Shophia Jex-Blake, no livro "Medicina como uma profissão para mulheres", em 1869)

 

O Brasil não ficou fora dessa, nós, considerados a mistura de todos os povos, de todas as culturas, absorvemos e divulgamos mais essa idéia .
 

Portanto, ao ler O CORTIÇO, temos que lembrar que Aluísio de Azevedo era machista. Ele vai relatar o cotidiano da mulher de baixo nível da sociedade de uma forma que despreze a mulher que trabalha, que se põe no que homens fariam, e até as que são separadas ou que mandam no próprio nariz possuem características ,relatadas por ele, ruins.

 Aluísio faz com que criemos uma imagem de que aquelas que andam nas próprias regras são ruins, feias, vagabundas, cria em nós um sentimento de repugnância, que o que elas estão fazendo é errado.

Logo, como comentamos na página Resumo do livro, o modo como Aluísio lida com sua postura de narrador é tendenciosa. Indiretamente cada personagem é retratado pela perspectiva machista da época.

 

 

O NATURALISMO 

 

 

--> No naturalismo a mulher deixa de ser idealizada como no romantismo

     -Passa a ser representada de forma real, com suas características reais, e algumas vezes acaba até de forma exagerada, e trabalhada de maneira indireta, porque essa é a maneira do Naturalismo.

     -É representada como agente da realidade, por diversas vezes como sedutora. Na obra, ela aparece de forma sensual, como é o caso da personagem Rita Baiana e submissa, como Bertoleza. Através delas, Aluísio mostra suas contradições e exageros do próprio Naturalismo e Mostra também o interesse do autor em defender a teoria do determinismo ``o homem é um animal, presa de forças fatais e superiores(...)``

     # Nas seguintes imagens podemos ver a diferença entre a pintura romantica ( que exalta a mulher e a sensibilidade) e o naturalismo ( que mostra a realidade, mostra a excência do que realmente estava acontecendo no momento)

 

Pintura Romântica

"Ofélia" (1851-2) é a obra mais famosa do pintor inglês John Everett Millais.

Nesta tela, o artista representa a imagem idealizada da mulher trágica, predominante na pintura romântica.

Ofélia, a namorada suicida de Hamlet, foi pintada com minuciosa atenção. Centralizada na composição, a mulher flutua em um lago com a vegetação fechada emoldurando seu corpo. Alheia ao que a cerca, seu semblante melancólico não esboça qualquer reação.

O artista procura imprimir uma visão imaterial da mulher, cuja textura do rosto, em tom de mármore, assemelha-se às madonas renascentistas. Seu corpo e principalmente seu rosto emanam luz, conferindo-lhe intensa carga simbólica.

A obra integra o acervo da Tate Gallery, em Londres.

(Texto retiirado do BLOG DO NOBLAT)

 

Pintura Naturalista

 [La_faneuse.jpg]

 

Julien Dupre
pintor naturalista francês (1851-1910)

Nota: Por volta de 1830, o grande interesse por paisagens naturais leva um grupo de artistas a se reunir em Barbizon, na França, para pintar ao ar livre, uma inovação na época. A pintura naturalista retrata fielmente paisagens urbanas e suburbanas, e seus personagens são pessoas comuns. O artista pinta o mundo como o vê, sem as idealizações que o realismo cria para expor suas posições ideológicas. As obras concorrem com a fotografia. ( retirado do BLOG DA SANTA)


--> Assim como as demais personagens as mulheres têm traços patológicos, apresentam desvios;

       -Na obra há o lesbianismo, a sensualidade, adultério etc., tudo isso representado na figura da mulher.

       -Há também as relações entre raça, gênero e processos de estigmatização e estereotipia que enredam identidades femininas nas formas “negra” e a “mulata”, as personagens Bertoleza e Rita Baiana são negras e mulheres, por isso, determinadas racialmente e, além disso, retratadas como mulheres não-idealizadas, Bertoleza chega ao auge da submissão à João Romão, escrava, ela representa a sociedade escravocrata em processo de abolição.

 

 

NÃO ESQUECER :

 

- a maioria das mulheres populares tinha a própria maneira de pensar

 

- Não tinham o costume de se casarem propriamente, porque era muito caro, mas sim o de se juntar ao seu homem e viverem como casados . Tal atitude representava preconceitos da época, já que a mulher era símbolo de modelo do lar e do marido, enquanto as solteironas eram mulheres perdidas, indignas e perigosas por servirem de descaminho para as “filhas de família”.

 

 

 

 

 

 ARTIGOS- TRECHOS IMPORTANTES!

 

 

  ODISSÉIA DA MULHER DO NATURALISMO RUMO À DEGRADAÇÃO 

 

    Em um artigo de José Ribamar Neres Costa Neste, trata-se especificamente das personagens femininas presentes em algumas obras naturalistas escritas no século XIX. A intenção é mostrar que a mulher não tem voz dentro dessa estética literária e que, na busca da verossimilhança, os escritores naturalistas, que tanto prezam a verdade, acabam “padronizando” a figura da mulher, levando-a, invariavelmente, à degradação física e moral.

 

Confira alguns trechos:

 

-Podemos perceber que a mulher, é usada como elemento de suporte para o brilhar do homem.

 

-Como diz Flora Süssekind, para a mulher naturalista há dois caminhos “ou o casamento, ou camisa de força”.

É importante notar que dentro do Naturalismo o casamento não é uma constante e os que se realizam sempre trazem uma boa dose de infelicidade para os cônjuges. Normalmente a união do casal não é legalizada. Homem e mulher, ou macho e fêmea, simplesmente moram juntos.

 

-Tentando explicar literalmente tais fatos, Massaud Moisés (1989, p.18) diz que no Naturalismo “o patológico torna-se regra, pois a tese preconizada não admitia que o corpo social pudesse ter órgãos saudáveis”. Ou seja, desejo sexual é visto como doença, como vício que deve ser satisfeito, tanto faz que seja com o casamento, com o adultério ou com a prostituição.

 

-Um cruzar de caminhos marca a saga das mulheres do Naturalismo brasileiro. Uma espécie de castigo atávico deixa-as em um mesmo patamar de sofrimento.

Como veremos a seguir, há dois tipos de final para o personagem feminino: o da degradação física (culminada com a morte) e o da degradação moral.

 

a)      morte física

 

Ser mulher é crime. O autor naturalista leva tal regra bem a sério. Suas personagens femininas são sempre culpadas de algo, mesmo que esse algo não tenha ainda acontecido. Costa (2002, p.04) adverte que as narrativas naturalistas “sempre caminham para um desfecho trágico, em que a figura feminina é sempre sacrificada em prol da defesa da ideologia de que é a mulher a causadora de grande parte da desgraça do homem.”

Um exemplo é:

Bertoleza é fraca, frágil. Assim como Luiza, é fisicamente forte, mas não resiste à dor e ao sofrimento moral. Suicida-se com a faca com que limpava peixes. A velha escrava cai “para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangueEnquanto isso, ironicamente, João Romão, o principal causador da desgraça da negra, é condecorado por uma comissão de abolicionistas.

 

b)      morte moral

 

Outras mulheres do Naturalismo não morrem fisicamente, mas acabam perdendo o sentido de viver. Desmascaradas, traídas, aprisionadas ou loucas, as mulheres que não encontram a morte acabam ficando à margem da sociedade.

Como exemplo:

Piedade, esposa de Jerônimo, em O Cortiço, termina bêbada e prostituída, abusada sexualmente por homens sem escrúpulos.

- As mulheres presentes nas obras naturalistas do século XIX são geralmente postas num mesmo patamar de causas e conseqüências, tendo como destino o alijamento social ou morte. A histeria também faz parte do painel feminino do século XIX na obra naturalista e serve como forma de caracterizar um castigo feminino.

 

 

 

 

 

 

Da representação à auto-apresentação da Mulher Negra na Literatura Brasileira  por Conceição Evaristo

 

-Pode ser observado que a literatura brasileira, desde a sua formação até a contemporaneidade, apresenta um discurso que insiste em proclamar, em instituir uma diferença negativa para a mulher negra. A representação literária da mulher negra ainda surge ancorada nas imagens de seu passado escravo, de corpo-procriação e/ou corpo-objeto de prazer do macho senhor. Interessante observar que determinados estereótipos de negros/as, veiculados no discurso literário brasileiro, são encontrados desde o período da literatura colonial.

 

-Uma leitura mais profunda da literatura brasileira, em suas diversas épocas e gêneros, nos revela uma imagem deturpada da mulher negra. Um aspecto a observar é a ausência de representação da mulher negra como mãe, matriz de uma família negra, perfil delineado para as mulheres brancas em geral. Mata-se no discurso literário a prole da mulher negra. Quanto à mãe-preta, aquela que causa comiseração ao poeta, cuida dos filhos dos brancos em detrimento dos seus. Na ficção, quase sempre, as mulheres negras surgem como infecundas e por tanto perigosas. Aparecem caracterizadas por uma animalidade como a de Bertoleza que morre focinhando, por uma sexualidade perigosa como a de Rita Baiana, que macula a família portuguesa, ambas personagens de O Cortiço, (1890) de Aluísio de Azevedo.