O Lesbianismo

 

-Trajetória das Lésbicas no Movimento Homossexual Brasileiro


Enquanto termo político, o termo homossexual seria inclusivo, (portanto jamais excludente), nos fortalecendo como cidadãs para visibilidade / cidadania plena/ e demais necessidades primordiais.O ranço da sociedade patriarcal e falocrática levou os homossexuais masculinos (gays e travestis) à não permitir que as mulheres liderassem, decidissem, enfim se emponderassem.E, isto nos levou a buscar nosso espaço, em ondas evolutivas, pois, em nossos objetivos quando se desconstrói é para fortalecer os alicerces,enraizar interações,retornando com uma construção mais consolidada em visibilidade,saúde, e, luta por nossos direitos ,que sem nós jamais serão humanos...
O primeiro grupo de lésbicas no Brasil, foi organizado em São Paulo, na década de 60:- AS GRACIOSAS-: acolhendo as lésbicas discriminadas pela sociedade, expulsas de seus lares, quando assumiam seu amor pelas iguais.Não era um grupo formatado politicamente, não havia estatuto /regimento interno, o que comandava a ação destas nossas percussoras era a emoção, eram militantes do sentir pleno, da solidariedade, da resistência.
1978 –Fundado o Grupo SOMOS-SP, grupo de afirmação homossexual, com um grande numero de presenças lésbicas.
1979 - As lésbicas do SOMOS –SP, se organizam e criam a “Facção lésbico –feminista”, que passa a ser um subgrupo do Somos.
- Fundação do SOMOS-RJ.

1980 - As lésbicas do Somos –RJ, desgastadas com a falta de espaço e atenção a suas discussões e necessidades especificas, partiram para uma efetiva e independente ação no grupo “MULHERES EM ATIVIDADES”.Neste mesmo ano, lésbicas de todo o Brasil se organizaram para lutar por seus direitos, resultando em grupos organizados, em sua maioria, por lésbicas oriundas de grupos feministas:
-GALF –(que durante este período teve diversas denominações= GRUPO DE ATUAÇÃO LÉSBICO FEMINISTA / GRUPO DE AÇÃO LÉSBICO FEMINISTA /GRUPO DE AÇÃO LÉSBICA FEMINISTA)/SP-GRUPO LIBERTÁRIO HOMOSSEXUAL / BA-GRUPO 3A DIMENSÃO /RS-GRUPO GAUCHO DE LÉSBICAS FEMINISTAS/ RS-SÓ MULHERES / RJ
Nos anos 90, a maioria das lésbicas percebe que, sem a organização para sua visibilidade e inerentes fatores específicos, seriam sempre e apenas as lésbicas dos grupos mistos, o que resultou em organização social das lésbicas para conscientização; ou seja, nosso esclarecer as nossas iguais o que era exercício pleno de cidadania,direitos humanos e prevenção /sexo seguro. Enfim, havia a necessidade de tornar hábito o auto-exame das mamas, assim como a ida com freqüência, pelo menos, semestral ao ginecologista para exames de rotina, assim fazendo a prevenção do câncer de colo de útero, DST/AIDS. , hepatites e etc. Mesmo com a pouca incidência de infecção do HIV por relação lésbica (MSM) , temos que nos prevenir contra as demais infecções, pois, temos como exemplo o HPV, que não tem cura, e, é praticamente assintomático.
O termo LÉSBICA é referente à Ilha de Lesbos, que abrigava a poetisa Sapho, a 1a mulher que ousou falar /praticar /gratificar o amor entre mulheres.


Estarmos analisando e organizando esta trajetória revela não somente a desconstrução de um estereotipado imaginário, onde lésbicas ficavam as sombras /relegadas a figuras de cena; como também revela toda uma perspectiva político –sócio – cultural e ética, lésbica.
Há muito que se perceber em nossa constante luta, bem mais que a forma de lutar, e, sim a busca da identidade, a conscientização do ser lésbica como natural, positivo, normal e legal.-Esta necessidade premente foi contemplada com o I Seminário Nacional de Lésbicas (organizado pelo COLERJ-RJ), o primeiro evento realmente voltado às questões lésbicas, contemplando a conscientização da necessidade de irmos a luta contra a discriminação (inclusive no MHB), abrindo espaço para uma discussão de como trabalharmos Organização, visibilidade e Saúde.Neste Seminário ficou decidido o dia 29 de Agosto como o dia Nacional da Visibilidade Lésbica.
Sentimos que a dificuldade ainda se faz maior para as lésbicas não assumidas que enfrentam a oposição entre ser mulher /dona de casa / profissional e militante, ou seja, a oposição entre o pessoal e o social. Este conflito se faz superável em curto prazo com a visibilidade de muitas de nós, força e pique de luta, exemplos, apoio. Com certeza, só exerceremos nossos direitos e combateremos toda a forma de violência, com a visibilidade plena.
“Precisamos conquistar visibilidade para ampliar nossos direitos e combater a impunidade”(Marisa Fernandes)

 

"A homossexualidade ainda é tratada como doença", diz socióloga Berenice Bento

 

Marcelo Hailer https://acapa.virgula.uol.com.br

 

Na noite desta segunda-feira (6), teve início o Ciclo de Debates da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, cuja programação segue até julho. A mesa de ontem, realizada na sede do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP), contou com a participação da socióloga e pesquisadora Berenice Bento, que tratou da campanha mundial pela despatologização da transexualidade.


Em sua fala, Bento declarou que a luta pela retirada da transexualidade do Código Internacional de Classificação de Doenças (CID) não diz respeito apenas às transexuais. A socióloga explicou que, a partir do momento em que a homossexualidade foi retirada, ela ganhou um novo nome, que para ela se define como "transtorno de gênero". "Dizer que a homossexualidade não é tratada como doença é uma farsa. Pois, hoje, o psicólogo ou o psiquiatra não pode classificar a homossexualidade como doença, mas o transtorno de gênero sim, e é isso o que eles fazem. O seu filho é afeminado? Ele sofre de transtorno de gênero", denunciou a socióloga.

Bento também opinou sobre o fato de o Estado mudar o nome dos transexuais apenas após a cirurgia. Para a pesquisadora, é um "absurdo" que o Estado negue um nome a estas pessoas, porque "o nome é o direito pela cidadania". Muito provocadora, Bento perguntou aos presentes: "Afinal, o que é uma mulher? O que é um homem? O gênero é uma técnica de opressão. Definir o gênero e o sexo pela genitália é uma grande mentira".

A seguir, você confere uma entrevista exclusiva com Berenice Bento. Na conversa, ela fala do controle do Estado sobre os corpos e as sexualidades das pessoas e aponta para o fato de que quem sofre as maiores consequências da opressão de gênero são as "mulheres, os gays femininos e as travestis". A pesquisadora revela ainda que ficou "chocada" com a reação da presidente Dilma Rousseff diante do vídeo "Probabilidade". Nas palavras de Bento, a atitude de Rousseff foi "estapafúrdia" e revela o quanto "o projeto da heteronormatividade é frágil".

O veto ao Kit Escola Sem Homofobia é o ápice da luta por uma sociedade não heteronormativa? 
É uma disputa que está posta. Mas, particularmente, me assustou e acredito que a muita gente também, a fala da presidenta, pois parecia que ela tinha visto algo terrível e obscuro. É um absurdo o que uma presidenta da República fala. Ou ela é muito carola e aí me assusta porque a disputa vai ser em outro nível, ou ela não viu os vídeos. De um lado ou de outro, assusta.

Acredita que é falta de conhecimento? 
Acredito que sim e profundamente desrespeitosa. Estamos falando de política pública e de movimento social. Trata-se de um material produzido pelo Ministério da Educação (MEC), que foi discutido por anos e há anos já existe o curso "Diversidade Sexual e de Gênero nas escolas". Aí vem a presidenta fazer aquelas declarações estapafúrdias, uma atrás da outra. A questão do privado, do costume, de que ela não tinha gostado que viu... O que ela viu afinal?

Ela declarou que assistiu a um trecho do vídeo "Probabilidade". 
É um vídeo absolutamente singelo no sentido de uma linguagem poética com desenhos sobre um jovem que vive algo que é uma crise ou algo permanente, e que no final indica que pode ser uma boa escolha não ter escolha. Um texto rico e tão bom para se discutir... Sou professora e vejo que um material desse pode ser muito bom para discutir com pessoas que estão vivenciando aquele momento ou para discutir questões que circulam nas relações humanas.

A questão da biopolítica tem voltado à pauta. No caso, sobre o controle do Estado sobre os corpos. Michel Foucault nunca esteve tão atual, visto que ele apontou, há trinta anos, esse controle estatal dos corpos?
Está voltando porque a cada dia que passa a autonomia do sujeito em decidir diminui. O Estado está em todos os lugares regulamentando tudo. Há um avanço do controle sobre a vida. Ao mesmo tempo isso produz resistência. Nos próprios textos do Foucault ele diz que "onde tem poder, tem resistência". Só não vai ter resistência se você viver num Estado de escravidão onde o outro é o objeto. A biopolítica gera, obviamente, resistência e contrapoder.

Acredita que o ideal seria superar as identidades de gênero e sexuais? 
Tem que discutir a questão das identidades políticas: o que é identidade política? O movimento feminista, que é o que eu trabalho mais de perto, trabalha a questão: quem é o sujeito do feminismo? Discuto que o sujeito do feminismo não são as mulheres, são todos os sujeitos que estão em disputa e que não concordam com a ordem de gênero binária naturalizada. É a discussão do sujeito identidade coletiva. Quem é o sujeito do movimento gay? A questão das identidades individuais. Nós somos projetos de nós mesmos, nós nunca estamos prontos, a cada dia nós estamos postos em situações que exigem respostas que nós não temos e que temos de inventar de acordo com a situação. Na questão da sexualidade, por exemplo, não sei se você sabe o tanto de mulher que tem um relacionamento hétero e que de repente encontra uma mulher e se apaixona... Isso não quer dizer que ela esteve no armário, mas é que existe a ideia de uma identidade fixa e que nós nascemos com ela e vamos morrer com ela. Eu não sei a quem interessa, porque na vida não é assim.

É possível vislumbrar uma sociedade livre da heteronormatividade compulsória?
Sim. Nós estamos todos metidos nisso, onde a heterossexualidade não seja o único lugar de humanidade. Não pode ser a única possibilidade de você viver a sexualidade. Nós estamos nesta luta.

O filósofo Slavoy Zizek declarou em artigo que atualmente vivemos sob as "falsas políticas da diversidade". Os governos fazem secretarias e algumas políticas de inclusão, mas que a base machista/homofóbica não é alterada. Você concorda? 
Eu concordo, mas precisaria ver o contexto do texto dele. O machismo, que prefiro chamar de dominação masculina, traz como ideia o masculino que não tem um corpo. Uma mulher pode ter um poder muito mais masculino do que um homem, então, a dominação masculina, esse lugar que diz que para você ter poder, a virilidade não vinculada à ideia da presença do pênis, mas como prática de disputa, é muito forte. Os modelos de gênero estão intocáveis. As mães continuam educando os seus filhos para o mundo público e continuam educando as suas filhas para serem mães. Continuam dizendo que menina tem que casar, o projeto da maternidade enquanto destino; o destino dos meninos é dominar e controlar. E o resultado disso são homens que matam mulheres, porque ele pode, já que ele controla. Os índices de violência contra as mulheres não têm baixado, continuam muito elevados; a violência contra gays também, mas principalmente contra os gays femininos ou com as travestis. Então tem uma coisa nessa concepção, nessa estrutura de gênero, onde o feminino é o lugar do poluído, do abjeto, algo a ser controlado e dominado. A dominação está do lado do masculino, portanto, há um longo caminho para gente percorrer e pensar estratégias teóricas, um novo tipo de movimento feminista, um movimento pós-uterino.

A filósofa Beatriz Preciado declarou recentemente que as "sexualidades são como as línguas e que se pode aprender várias". Você concorda com esta colocação? 
A sexualidade não é um dado da natureza: você não nasce hétero. Você é produzido enquanto heterossexual. E o projeto da heterossexualidade é tão frágil que até um suposto beijo (gay) em um desenho animado faz a presidenta da República vir a público e proibir. Então, que natureza é essa que treme diante de um suposto beijo em um desenho de um vídeo chamado "Probabilidade", que nem beijo tinha? Então, é algo aprendido mesmo. E não é apenas "aprendi, captei, sou hétero". É o tempo inteiro. Aprender uma língua é prática, você não aprende uma língua, você tem que praticar determinada língua e a sexualidade é isso mesmo. No momento em que você disser 'estou em dúvida', está lascado, porque vem aí o heteroterrorismo e os heteroterroristas não deixam barato. A produção da heteronormatividade é um projeto extremamente violento e permanente, que eu chamo de as "reinterações da produção da heterossexualidade" enquanto um projeto marcado pelo terrorismo. Você se comporta assim, o papai não te ama; você fecha as pernas, porque senão a mamãe não te ama; isso não é coisa de menino, isso não é coisa de menina. Menino vai pra rua brigar e dar porrada. Essas reinterações não têm nada de natural. São reinteradas pelos meios de comunicação, pela igreja, pela medicina, pela família e pelos amigos.