Visão Maniqueísta

 

 

A visão maniqueísta está presente também, na obra de Ariano Suassuna " O Auto da Compadecida". Embora as duas obras serem de épocas totalmente distantes, as duas apresentam a divisão entre o bem e o mal, condenando os vícios e as vaidades.

 

A obra de Suassuna trata-se também de uma reflexão sobre as relações entre Deus e os homens que também é retratada na obra de Gil Vicente.

Ariano mostra um povo religioso, de pé no chão, acuado pela seca, atormentado pelo fantasma da fome e em constante luta contra a miséria. Traça o perfil dos sertanejos nordestinos que estão submetidos à opressão a que foram, e ainda hoje são, subjugados por famílias de poderosos coronéis que possuem terras e almas por vastas áreas do Brasil.

Dentro desse contexto, João Grilo é a figura que representa os pobres oprimidos, é o homem do povo, é o típico nordestino amarelo que tenta viver no sertão de forma imaginosa, utilizando a única arma do pobre, a astúcia, para conseguir sobreviver.

 

Suassuna leva a julgamento almas, diante do tribunal, dirigido por Deus e o diabo, que são pecadoras devido às condições sociais existenciais, que se apresentam mais fortes que os valores morais. São acusados o bispo e o padre João, por se utilizarem da autoridade religiosa para enriquecerem. No entanto, com a intercessão de Nossa Senhora, a sentença é atenuada e eles se encaminham para o purgatório.

O padeiro, por ser sovina, e sua mulher, por adultério, também recebem a sentença final de ocuparem, juntamente com o padre, o bispo e o sacristão, os cinco lugares vagos do purgatório. São acusados também o cangaceiro Severino e o cabra dele, por tirarem a vida das pessoas sem autorização divina.

 

 

Como vimos, essa divisão entre o bem e o mal que é apresentada na obra de Ariano, ela acontecente da mesma forma no Auto da Barca do Inferno, em que Gil Vicente critica a forma que as pessoas agem,
Encontra-se também uma severa crítica aos maus costumes dos representantes da Igreja, que abusam de seu poder, contribuindo para a corrupção da instituição, uma vez que favorecem os ricos e têm hábitos que são condenados pela própria Igreja.