O padrão da mulher do século XXI

Quem é a mulher de hoje?

Desvendar a mulher contemporânea é tarefa das árduas, mas há sim homens que se dedicam a estudar a alma feminina, para entendê-las melhor. É o caso do psicoterapeuta do Hospital das Clínicas de São Paulo, Luis Cushnir.

Ele ministra o curso “A mulher e seu segredos - desvendando o mapa da alma feminina” no “Universo do Conhecimento”, em São Paulo.

 

“Essa pesquisa em particular é relacionada com a mulher, justamente apresenta aspectos da alma feminina e suas crenças arraigadas no que ela pensa hoje a respeito da sua identidade”, diz o especialista.

Cushnir conta para o Vila Dois quem é a mulher de hoje, seu modo de lidar com o mundo moderno e como os homens a vê. O psicoterapeuta ainda explica os “pontos doloridos” da alma feminina e os ganhos e as perdas das mulheres com a revolução do feminismo. “(A Mulher) tem um lugar conquistado e estabelecido, sendo considerada em todos os âmbitos da sociedade, diferentemente de quando era considerada menos importante, de segunda classe, pouco importante para momentos decisórios”, afirma. Confira abaixo a entrevista na íntegra!

Quem é a mulher de hoje?
Estas crenças de que há um amor perfeito, que as relações devem perdurar para sempre, assim como seus compromissos amorosos, o mito da maternidade sem limites de doação, ainda permeiam a identidade da mulher atual. Mas a mulher hoje consegue questionar isso tudo e busca uma maneira de conciliar o que está arraigado desses conceitos com a vivência de se expandir tanto emocionalmente quanto de seu lugar na sociedade que a solicita outras posturas. Isso vale tanto para os aspectos profissionais como para as suas relações afetivas. Está buscando uma nova construção da relação com o homem e com uma família, que não se confunda com o seu papel de esposa, onde tem um vínculo que deveria ser indissolúvel, mesmo sem se manter o amor.

Como o homem vê a mulher hoje?
O homem ainda a vê esteriotipadamente, com um respeito pela sua capacidade profissional, mas muita insegurança quanto ao seu equilíbrio emocional.

Quais os pontos doloridos da alma feminina?
Os pontos doloridos estão justamente na dificuldade de ser percebida em sua essência, e ao mesmo tempo de poder sentir-se livre para expressar-se a partir dessa. Tem que se conter e mostrar uma mulher mais integrada do que é, pois a sociedade exige dela uma resposta mais objetiva que desconsidera os aspectos relacionados à sua sensibilidade.

Quais as perdas e ganhos na revolução do feminismo?
Perdeu em poder se examinar e expressar suas dúvidas e necessidades afetivas, pois é desvalorizada se expor esse aspecto. Há uma confusão entre o que ela sente com o que ela é e produz. Ganhou um espaço para experimentar e se realizar como um ser humano de primeira classe. Tem uma importância e faz diferença quando se inclui seus atributos de visão, entendimento e desenvolvimento de projetos sociais, profissionais e pessoais, que a realizam como pessoa na sociedade. Tem um lugar conquistado e estabelecido, sendo considerada em todos os âmbitos da sociedade, diferentemente de quando era considerada menos importante, de segunda classe, pouco importante para momentos decisórios.

Fonte - MBPress

 

A mulher na sociedade atual

Ao longo da história, a mulher tem conseguido alguns espaços de fundamental importância para a sua participação no mundo político. Não um mundo político de partidarismo mesquinho, tal como acontece com aqueles que lutam para tomar o poder, mas para poder ouvir e ser ouvido. A atuação da mulher sempre foi árdua em todos os sentidos, a começar como dona de casa, as famigeradas donas do lar, até a mulher trabalhadora no mercado de trabalho comum que busca a sua emancipação, submetendo-se a um salário bem inferior ao mínimo estipulado por Lei. É este o ônus de quem quer avançar nos espaços que devem estar abertos para que todos os seres humanos sejam iguais na Lei e na prática.

Assim mesmo, falta muita coisa que deve ser feita para que as discriminações sejam abolidas do seio da sociedade e, em especial, do sistema capitalista que tem o objetivo de explorar o ser humano em demanda de migalhas que tenham por objetivo acumular e concentrar o capital de um sistema explorador. As discriminações são visivelmente exacerbadas; pois, quando se trata das mulheres, as complexidades são maiores, tendo em vista a própria desorganização delas, a sujeição em perceber remunerações de fome, dadas as suas condições de pobres e frágeis, a Lei do capitalismo que incita a uma opressão do companheiro sobre sua companheira e, sobretudo, a atuação da igreja que não incentiva um trabalho sério das mulheres.

Com este clima de subordinação e bloqueamento da participação feminina nas atividades cotidianas da vida e, da mesma forma, está-se fazendo política; porém, não existem condições de se ter uma emancipação rápida das mulheres, no sentido da igualdade dos direitos e obrigações, mas tão somente de buscar espaço para ditar as suas normas. O direito da mulher como ser humano deve ser sagrado, para que o mundo progrida e avance dentro dos princípios de eqüidade, de perseverança e de amor; pois, uma vida com atritos, com pelejas e ditadura, não pode progredir de maneira que proporcione a todos os seres viventes, um bem-estar para todos os animais racionais do planeta terra.

 

 

AS MULHERES DE HOJE E A SUJEIÇÃO DE ONTEM

08/03/2007


 

 

Mensagem da vice-presidente da OAB, Márcia Regina Machado Melaré.

 

  

Muitos brasileiros hoje questionam se ainda é mesmo preciso uma data para se comemorar o simples fato de ser do sexo feminino.

 

A utilidade real do 8 de Março, Dia da Mulher, tem sido questionada, diante de tantas datas comemorativas cujo apelo comercial se sobrepõe ao espírito de celebração da data em si. Questionam  se essa não seria apenas mais uma data para impulsionar vendas comerciais e argumentam que a mulher já ostenta números que reconhecem sua relevância na sociedade. Dizem que “hoje a mulher é quem está no comando”.

 

Realmente, nesse sentido, temos uma expressividade legitimada e reconhecida em alguns setores. É notória a reputação das mulheres de ter maior concentração na solução concreta dos problemas, sem exibição de poder. A mulher, em geral, não desperdiça esforços com o exercício da vaidade de cargos.

 

Além disso, já somos cerca de 3 bilhões em todo o mundo e representamos, aproximadamente, a metade da população dos países, segundo a Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO). No Brasil, já somos chefes de 28,8% das famílias, índice que cresceu 23% nos últimos dez anos.

 

Esses números mostram que o avanço da mulher nas sociedades é um fenômeno crescente e irreversível. Nos países pobres da América Latina, África e leste asiático, há uma forte tendência de aumento das famílias chefiadas por mulheres, como aponta o relatório Situação das Cidades no Mundo 2006/2007, da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

No entanto, quase 90% das brasileiras responsáveis pelo sustento da família moram em periferias e favelas, sem estrutura básica que atenda as suas necessidades com serviços como creche, mercados e lavanderias comunitárias, de acordo com dados coletados em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Além disso, no poder público, a participação feminina é insignificante. Ainda segundo a ONU, as mulheres ocupam, em  média, apenas 20% dos cargos públicos de comando na maioria dos países. Isso indica a presença da opressão sofrida pelas mulheres não somente nas classes inferiores, mas também nas mais abastadas. Somos poucas no Legislativo, no Executivo e, menos ainda, no Poder Judiciário. O mesmo acontece na liderança do mundo corporativo.

 

Essa sujeição social da mulher tem raízes profundas que ainda se sustentam na ideologia da imposição do domínio do masculino sobre o feminino que existe há cerca de cinco mil anos, cuja história se confunde com a própria história da civilização humana. Sempre houve discriminação contra a mulher.

 

Ambientes culturais diversos ainda fazem muitos analisar a mulher de forma preconceituosa, não lhes dando voz nem ação.

 

A discriminação e o preconceito fomentam a sujeição física e mental da mulher, restringindo a sua sexualidade e cerceando a sua liberdade. Faz habitar no inconsciente coletivo um conceito de que a mulher é menos capaz que o homem, o que não é verdade.

 

Nesse sentido, não basta afirmar que homens e mulheres são iguais perante a lei. Urge fixar em que termos essa igualdade é vivida.

 

Propiciar à mulher as condições para que possa exercer com dignidade a sua missão na sociedade e garantir igualdade de direitos com os homens, deve constituir o dever inarredável das instituições nacionais, principalmente aquelas, como a nossa Ordem dos Advogados do Brasil, que se posicionam na vanguarda das lutas sociais.

 

Toda luta contra preconceitos e pela necessidade de afirmação da mulher na sociedade brasileira devemos nos engajar, a sim de que o Brasil possa ilustrar sua imagem com a tintura da igualdade, da fraternidade e da solidariedade entre gêneros e raças.

 

Tenho grande esperança de que, com a inserção plena da mulher em todas as áreas, os valores culturais, os padrões comportamentais, o campo político e tantas outras esferas serão alterados, adotando-se um estilo de liderança e encaminhamento das questões mais interessante, mais criativo e mais sensível, sedimentando-se, assim, a condução de uma nova geração.

 

Parabéns a todos que não alimentam preconceitos!

 

Márcia Regina Machado Melaré

Vice-Presidente da OAB-SP

A mulher de hoje pelo IBGE

Apesar de ter seus direitos garantidos pela Constituição, a mulher brasileira sabe que ainda há muito a conquistar.

Só para ter idéia da importância das mulheres, basta saber que elas representam mais da metade da população brasileira. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais -2007, a população brasileira em 2006 era de 187,2 milhões de habitantes. Desse total, 96 milhões eram mulheres.

O aumento da proporção de mulheres em relação a homens é uma tendência demográfica no Brasil, ou seja: a cada nova pesquisa, os resultados mostram que a população feminina tem aumentado cada vez mais em relação à masculina. O indicador demográfico que expressa essa proporção se chama razão de sexo; ele mostra o número de pessoas do sexo masculino para cada grupo de 100 pessoas do sexo feminino. Acompanhe no gráfico:

Fonte: IBGE, Síntese de Indicadores Sociais – 2007.

Como você pode observar, as Regiões Metropolitanas de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre apresentaram a relação homem/mulher mais equilibrada, aproximadamente de 92 homens para cada 100 mulheres. As informações sobre as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador e Recife mostraram que, para cada 100 mulheres, tinham apenas entre 86 e 88,5 homens.

Outra tendência demográfica expressa na Síntese de Indicadores Sociais – 2007 é um processo de envelhecimento da população, ou seja, há menos crianças e jovens do que antes. A vida média ao nascer, entre 1996 e 2006, incrementou 3,5 anos, com as mulheres em situação bem mais favorável que a dos homens (72,3 para 75,8 anos, no caso das mulheres, e 65,1 para 68,7 anos, para os homens). O aumento da esperança de vida ao nascer em combinação com a queda da taxa de fecundidade resulta no aumento da população idosa – principalmente a feminina. Observe a pirâmide etária brasileira:

Fonte: IBGE, Síntese de Indicadores Sociais – 2007.

Em 2006, a taxa de fecundidade total (número médio de filhos que uma mulher teria ao final do seu período fértil) foi 2,0 filhos. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais – 2007, a queda da taxa de fecundidade nas últimas décadas é uma tendência não só no Brasil: diversos países já atingiram valores bem abaixo do chamado nível de reposição natural da população, principalmente os europeus. Entre nossos vizinhos americanos, observamos o caso de Cuba, cuja taxa em 2005 era de 1,6 filho, contrastando com a Bolívia, com 3,7 filhos por mulher. A Argentina se encontra nos mesmos patamares que o Brasil.

Fonte: IBGE, Síntese de Indicadores Sociais – 2007.

Mulheres responsáveis por domicílios

Entre 1996 e 2006, o percentual de mulheres responsáveis pelos domicílios aumentou de 10,3 milhões para 18,5 milhões. Em termos relativos, esse aumento corresponde a uma variação de 79%, enquanto, neste período, o número de homens “chefes” de família aumentou 25%. A Síntese de Indicadores Sociais – 2007 nos mostra que o aumento da “chefia” feminina ocorreu principalmente nas famílias compostas por casal com ou sem filhos.

É interessante pensar em alguns fatores que influenciam o aumento do número de mulheres responsáveis pelo domicílio.

  • Maior participação das mulheres no mercado de trabalho e, conseqüentemente, maior contribuição para o rendimento da família: Entre 1996 e 2006, o nível de ocupação das mulheres aumentou quase 5 pontos percentuais, ao passo que para os homens ocorreu uma redução de cerca de 1 ponto percentual. Para as mulheres, o aumento nos níveis de ocupação foi maior no Sudeste e na categoria de 40 a 49 anos de idade.
  • A alta expectativa de vida da mulher em algumas cidades ou regiões: A mulher assume a liderança da casa após a morte do companheiro. Isto contribui para o aumento do número de mulheres que moram sozinhas. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais – 2007, 26,7% das mulheres responsáveis por domicílios têm 60 anos ou mais de idade.
  • Casamentos desfeitos: A mulher, separada do marido, torna-se responsável pelo domicílio sozinha ou com os filhos. Entre os diversos tipos de estrutura familiar, a maior proporção de mulheres “chefes” encontrava-se em famílias que não contavam com a presença do marido e todos os filhos tinham 14 anos ou mais de idade (29,4%).
  • Homens que migram: de seu estado ou região em busca de emprego ou por outros motivos.
  • Aspectos culturais: As mulheres que valorizam a autonomia, independência e busca profissional muitas vezes preferem morar sozinhas. É simplesmente uma opção, uma questão de ponto de vista.

Participação no mercado de trabalho

Segundo a última Síntese de Indicadores Sociais, a maior participação das mulheres no mercado de trabalho tem se concentrado em quatro grandes categorias ocupacionais que, juntas, compreendem cerca de 70% da mão de obra feminina: serviços em geral (30,7%); trabalho agrícola (15%); serviços administrativos (11,8%); e comércio (11,8%).

Existem diferenças entre Grandes Regiões. Em 2006, a participação feminina nos serviços foi maior na Região Centro-Oeste (36%); no Nordeste, 26,6% das mulheres eram trabalhadoras agrícolas; o serviço administrativo, por sua vez, foi mais expressivo para as trabalhadoras do Sudeste; e as atividades de comércio absorviam 15,5% das mulheres ocupadas no Norte.

Para as mulheres ocupadas mais escolarizadas, com média de 12 anos de estudo ou mais, a inserção no mercado de trabalho é mais intensa nas atividades de educação, saúde e serviços sociais (44,5%). No Norte, essas atividades absorvem 53% da mão-de-obra feminina mais qualificada. As outras atividades e a administração pública também concentram boa parte da mão-de-obra feminina qualificada: 14,9% e 11,2%, respectivamente. No Centro-Oeste, provavelmente pela presença da Capital Federal, observa-se a maior concentração de mulheres na administração pública (20%).

Educação

Nas áreas urbanas, a escolaridade média das mulheres é de 7,4 anos para a população total e de 8,9 anos para as ocupadas. No Brasil rural, a situação é bem diferente. Essas médias são baixas: 4,5 anos e 4,7 anos, respectivamente.

As áreas metropolitanas apresentam as maiores médias de anos de estudo. No Distrito Federal, a escolaridade média das mulheres ocupadas é a mais elevada (10,4 anos). Por outro lado, a menor média observada foi nas áreas rurais de Piauí e Alagoas (3,2 anos), ou seja, nessas áreas as mulheres que estão ocupadas podem ser consideradas analfabetas funcionais e inseridas em trabalhos precários.

Acompanhe a tabela abaixo:

Fonte: IBGE, Síntese de Indicadores Sociais – 2007.

As mulheres também estão à frente quando o assunto é ensino superior e a tendência é ao aumento da qualificação da parcela feminina da população brasileira. Em 1996, do conjunto das pessoas que freqüentavam estabelecimentos de ensino superior, a proporção de mulheres era de 55,3%, passando para 57,5%, em 2006. Isto mostra que os homens estão perdendo espaço no processo de escolarização, pelo menos, no que tange a taxa de escolarização superior.

 

 

Pelo que lutam as mulheres hoje?

Equidade de direitos ainda é um desafio para a ação políca feminina
 
Reportagem Juliana Karpinski
Edição Thaíse Mendonça
 
Neste sábado (8), o dia internacional da mulher completa 33 anos desde que foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data relembra as 130 operárias de uma fábrica de tecidos norte-americana que morreram carbonizadas durante repressão a uma manifestação por melhores condições de trabalho nos anos 50.

Tal como as tecelãs norte-americanas, as mulheres reivindicaram seus direitos, queimaram sutiãs em praças públicas em defesa da liberdade sexual, conquistaram o sufrágio universal. Hoje, leis são votadas devido à pressão dos movimentos, debates sobre a questão da diferença salarial entre homens e mulheres têm importância na economia, além do campo de estudo dos gêneros ser uma área em expansão. Para a professora do departamento de ciências sociais especialista em relações de gênero Mirian Adelmam, apesar das conquistas obtidas graças a atuação feminista, a resistência cultural ao feminismo continua sendo enorme. “Prevalece o desconhecimento, idéias estereotipadas, que revelam uma certa ignorância sobre o feminismo”, defende.

Para a deputada estadual Cida Borghetti, a mulher precisa fazer uso de seus direitos e mostrar que a mulher pode e deve dar a sua contribuição nos mais diversos segmentos da sociedade. O mesmo defende a deputada estadual Luciane Guzella Rafagnin, que explica que o movimento feminista colocou para a mulher a consciência de que ela precisa ocupar seu espaço tanto no campo social, econômico ou político. “É isso que dá coragem para enfrentar os desafios que temos na sociedade ainda hoje”, completa Luciana.

 

Direitos ainda precisam ser garantidos

O empenho de mulheres e movimentos possibilitou conquistas, mas há pautas femininas que ainda precisam ser debatidas. A dupla jornada de trabalho é um dos problemas que as mulheres ainda enfrentam. Além do emprego, são elas que cuidam da limpeza da casa e dos filhos. Bancária e secretária da mulher trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR), Eliana Maria dos Santos defende que não é necessário só reduzir a carga de trabalho que a mulher tem no mercado de trabalho, mas que é preciso reduzir também a carga que ela tem dentro de casa. Já para a presidente da comissão da mulher advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Sandra Lia Barwinski, é uma questão cultural em que as mulheres avançaram e os homens não. “Eles ainda não sabem atuar dentro de casa” afirma.

Para a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público (Sindtest), Carla Cobalchini, outro ponto que mostra a desvalorização da mulher é a questão da remuneração menor em relação ao homem, em uma mesma posição de trabalho. Segundos dados dos Registros Administrativos da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, em 2006, o trabalho feminino recebe em média 21% a menos que o masculino. “Isso representa realmente a discriminação da mulher”, afirma a integrante do Sinditest.

Criada em 2006, a Lei Maria da Penha é considerada um avanço no combate a violência doméstica pela advogada Sandra Barwinski. Ela explica que a lei traz uma série de mecanismos que ainda precisam ser implementados, mas que já melhorou a visibilidade do problema. “A partir de 2006, a violência contra a mulher ganhou status de crime, antes ela era relegada a um plano menor”, complementa Sandra. A deputada estadual Luciana Rafagnin ainda ressalta a necessidade de se investir em centros de apoio, casas abrigos, delegacias.

Outro tema muito presente nos debates e reivindicação dos movimentos é a descriminalização do aborto. Coloca-se a questão do direito sobre o próprio corpo que está sobre a tutela do Estado, a partir do momento que é ele quem decide se o aborto é crime e quem pode, ou não, fazê-lo. “O que o movimento feminista tenta, hoje, é conquistar o direito da mulher decidir sobre o próprio corpo”, afirma Carla.

 

Como são as leis direcionadas as mulheres.

A principal reclamação das mulheres que lutam por seus direitos é a que o Estado não oferece mecanismos para que as leis criadas sejam cumpridas e não cria políticas de atenção à mulher. “O movimento feminista cresceu muito e tem sido decisivo na criação de leis para as mulheres nos últimos anos” , afirma Sandra Barwinski. Já Carla Cobalchini questiona os interesses do Estado na aprovação de leis reivindicadas pelo feminismo. “A forma de implementação das leis é o que dá o tom se os movimentos de mulheres conseguem ou não atingir o que eles pleiteiam” afirma.

Segundo a advogada da OAB, há muita boa vontade por parte daqueles que estão aplicando as leis. “Mas ainda falta muito o que ser feito e tudo isso depende de orçamento”, afirma Sandra.

 

A importância do feminismo hoje

A inserção da mulher na sociedade, que aconteceu principalmente pela contribuição do feminismo, abriu as portas para que novas mulheres pudessem reivindicar outros direitos ainda não atendidos. “Hoje as mulheres estão participando e se destacando na política, nos movimentos sindicais, no trabalho”, exemplifica Eliana dos Santos.

O foco do movimento deixou de ser apenas a conquista da equidade dos direitos entre os sexos. As mulheres passaram a ter reivindicações específicas como a igual jornada de trabalho, igual remuneração, auxílios trabalhistas e a descriminalização do aborto. Para Carla Cobalchini, as reivindicações feministas vêm recebendo apoio de outros setores ligados direta ou indiretamente ao feminismo, que deixou de ser um movimento isolado e passou a se diversificar trabalhando de forma coletiva. “Hoje a percepção da opressão que a mulher sofre deixou de estar apenas nos movimentos feministas e chegou a outros setores da sociedade e com isso o movimento ganhou força”, defende.

A ação política do feminismo se orienta no sentido de consolidar o que já foi alcançado, mas também de avançar e responder a novos desafios. Cida Boghetti acredita também que apesar termos evoluído bastante em todos esses pontos, o movimento feminista não se esvazia. “Não se trata de exigir privilégios, apenas garantir que homens e mulheres possam conviver em harmonia com o devido respeito às peculiaridades do sexo feminino para que não regressemos em avanços já conquistados”, explica.